Objetivo:
O coração da mulher tem particularidades que levam a diferenças na prevalência e manifestações da doença cardiovascular. O mapeamento T1 é uma técnica avançada de ressonância magnética cardíaca (RMC) que permite a quantificação precisa das propriedades do tecido cardíaco, fornecendo informações importantes sobre a caracterização tecidual. O objetivo do estudo foi analisar as diferenças na composição do tecido miocárdico entre homens e mulheres, além de investigar como essas características se alteram com o envelhecimento em indivíduos saudáveis.
Métodos:
A pesquisa incluiu uma coorte de indivíduos saudáveis, sem histórico de doenças cardiovasculares, que foram submetidos a exames de ressonância magnética cardíaca para a realização do mapeamento T1 nativo. Foram avaliados um total de 276 pacientes saudáveis, sendo que destes 30 pacientes repetiram o exame em um ano. Os participantes foram divididos por sexo e em faixas etárias distintas para avaliação comparativa. As medições do tempo de relaxamento T1 foram usadas como um indicador da composição tecidual miocárdica, refletindo a quantidade de água e fibrose intersticial.
Resultados:
Dos 276 pacientes, a idade variou de 8 a 84 anos, sendo a mediana foi de 32 (21-54) anos. 55% eram do sexo masculino. O estudo encontrou diferenças significativas nos valores de T1 entre homens e mulheres. Mulheres, em geral, apresentaram valores de T1 mais elevados, sugerindo uma composição tecidual distinta. O T1 nativo médio foi de 1000 ± 22 ms em homens e 1022 ± 23 ms em mulheres [diferença média (DM) = 22 ms, intervalo de confiança de 95% (17 – 27), p < 0,0001). O sexo feminino permaneceu associado a valores T1 nativos mais elevados ao ajustar para idade, FC, índice de massa do VE e T1 sanguíneo [β=10 ms, IC de 95% (3,4, 15,8), P = 0,003]. Em ambos os sexos, os valores de T1 aumentaram com a idade. Nos 30 pacientes que repetiram o exame em um ano de seguimento, não se observaram diferenças significativas [MD −4 ms, IC de 95% (−11, 3), P = 0,20], nem houve diferença entre homens [−3 ms, IC de 95% (−11, 6), P = 0,48] ou mulheres [MD −6 ms, IC de 95% (−18, 6).
Conclusão:
O estudo demonstra que há variações significativas na composição do tecido miocárdico saudável relacionadas ao sexo e à idade, conforme revelado pelos valores de T1 nativos por RMC. Essas diferenças são importantes para o entendimento das características normais do coração, podendo ter implicações para a interpretação de exames cardíacos em diferentes populações e para o diagnóstico precoce de doenças cardíacas. A pesquisa sugere que a consideração das variações sexuais e etárias pode melhorar a precisão da avaliação cardíaca em exames de imagem contribuindo para um diagnóstico mais preciso e individualizado.
Título original: Sex-and age-related variations in myocardial tissue composition of the healthy heart: a native T1 mapping cohort study
Autores: Katrine Aagaard Myhr, Liv Andrés-Jensen, Bjørn Strøier Larsen, Joakim Bo Kunkel, Charlotte Burup Kristensen, Niels Vejlstrup, Lars Køber, and Redi Pecini
Referências: European Heart Journal - Cardiovascular Imaging (2024) 25, 1109–1117 https://doi.org/10.1093/ehjci/jeae070
Data publicação: 12 de março de 2024.