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O Sabor da Vida



O Sabor da Vida (ou La Passion de Dodin Bouffant, no original), é um filme francês de 2023, estrelado por Juliette Binoche e Benoît Magimel, e dirigido pelo cineasta vietnamita, Tran Anh Hung (O Cheiro do Papaia Verde, de 1993). Fui ver este filme por indicação do amigo Edgar Lira, atraído pelo tema central, a gastronomia. 


Baseado no romance de Marcel Rouff, o filme é um drama ambientado no final do século XIX, com um estilo visualmente deslumbrante, que combina a arte da alta gastronomia com uma história de amor e cumplicidade em um clima delicado e refinado. A obra retrata a relação entre Eugénie (Binoche, sempre brilhante), uma cozinheira talentosa, e Dodin Bouffant (Magimel, espetacular), um gourmet apaixonado pela culinária, que ao longo de 20 anos compartilham não apenas a cozinha e a criação de pratos geniais, mas também uma profunda conexão emocional. Sob a supervisão dos chefs três estrelas Michelin Pierre Gagnaire e Michel Nave, consultores gastronômicos do filme, as cenas culinárias são impressionantes, repletas de autenticidade e realismo. A câmera captura cada detalhe da preparação dos pratos, as texturas dos ingredientes e a atmosfera elegante da época. As imagens são ao mesmo tempo um deleite visual e parte essencial da narrativa, onde o processo de cozinhar reflete as complexidades das relações humanas.


Um dos grandes destaques do filme é a sequência de abertura, onde Eugénie prepara um meticuloso banquete para Dodin e sua trupe de amigos aficionados pela “haute cuisine”. Quase sem nenhum diálogo, a cena captura a atenção do espectador com uma verdadeira coreografia culinária. A maestria de Eugénie na cozinha proporciona uma experiência sensorial que abre o apetite e evoca a memória afetiva de todos nós. A comida representada não só como alimento, mas como uma mensagem de afeto entre as pessoas, sejam amantes, familiares ou amigos. A química entre Binoche e Magimel, que já foram casados na vida real e tem uma filha, está estampada na troca de olhares e significados de seus personagens na tela. 


A trama, embora restrita, gira em torno do dilema de Eugénie, que resiste aos insistentes pedidos de casamento de Dodin, preferindo manter sua independência neste relacionamento, que é sem dúvida entre iguais. A tensão aumenta quando se revela que Eugénie pode estar gravemente doente, adicionando incerteza e melancolia à trama. O que Dodin pode fazer então, após ter experimentado todos os prazeres possíveis na vida, e ver negado o único desejo que não pode controlar, o consentimento de Eugénie para se casar com ele? Cozinhar para ela, claro! Convencê-la do amor incondicional que ele oferece, da melhor maneira que pode. O filme, assim, não é apenas um retrato da alta gastronomia, mas uma reflexão sobre o amor, a perda e o preço da independência.


Entretanto, não é um filme para todos os gostos.  A narrativa é sofisticada, porém lenta, para degustar aos poucos, como um bom vinho. A condução do enredo vai na contramão do modo de vida acelerado dos dias de hoje. A combinação do cenário bucólico, dos personagens carismáticos e, claro, da comida, é cativante, mas deve ser contemplada, na acepção do termo. 


Disponível no Amazon Prime Video, Google Play and Apple TV.

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