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Síndrome do Impostor

Já se sentiu menos competente do que os outros pensam, mesmo possuindo as qualificações e habilidades necessárias para exercer sua função? Ou como uma "fraude", com medo constante de que suas falhas ou limitações sejam descobertas? Se a resposta for sim, saiba que isso tem um nome: Síndrome do Impostor (SI). Embora amplamente discutida na literatura acadêmica, a SI ainda não é reconhecida oficialmente como um transtorno psiquiátrico e não está listada na Classificação Internacional de Doenças.


O termo surgiu em 1978, quando as psicólogas Pauline Rose Clance e Suzanne Imes introduziram o conceito de "fenômeno do impostor" ao estudar mulheres de alto desempenho. Elas observaram que, apesar das realizações acadêmicas e profissionais significativas, essas mulheres ainda acreditavam que não eram realmente brilhantes e questionavam se mereciam os elogios que recebiam. Hoje sabemos que homens também podem ser afetados pela Síndrome do Impostor. Quem vivencia essa síndrome frequentemente atribui suas conquistas a fatores externos, acreditando que seus sucessos são fruto de sorte ou acaso, e não de mérito pessoal.


Essa condição pode afetar negativamente o desempenho profissional. A tendência de trabalhar excessivamente para evitar erros, a procrastinação e o esforço exagerado para provar competência podem resultar em aumento da ansiedade, depressão e esgotamento. Além disso, o receio de “ser descoberto” leva muitos a evitar oportunidades de crescimento, reforçando a sensação de inadequação. Esse é um problema isolador, pois as pessoas costumam sofrer em silêncio, temendo expor suas inseguranças.


A SI é mais comum do que se imagina, afetando profissionais em diversos estágios de suas carreiras. A prevalência varia amplamente, entre 9% e 82%, refletindo a ausência de dados consistentes sobre sua real frequência. Em duas pesquisas recentemente publicadas, conduzidas pelo Departamento de Imagem Cardiovascular (DIC-SBC) e pela European Society of Cardiovascular Imaging (EACVI), que abordaram os desafios das mulheres em suas carreiras profissionais, a SI estava presente em mais da metade das entrevistadas. Poucas pesquisas exploram profundamente a SI, mas evidências sugerem que certos traços, como o perfeccionismo e a necessidade de aprovação, podem predispor as pessoas a esse fenômeno.


A medicina é vista como uma profissão de “alto risco”, com uma cultura exigente e baixa tolerância a erros, ocupada por indivíduos de alta performance. Desde cedo, médicos são treinados para buscar a excelência, o que gera pressões e expectativas elevadas. Isso pode levar a autoavaliações imprecisas, causando ansiedade, culpa e dúvidas sobre a própria competência — sentimentos que se relacionam com a Síndrome do Impostor. Em especialidades competitivas, como a cardiologia, muitos profissionais apresentam características da SI devido ao ambiente de extrema pressão. A SI pode surgir já na faculdade ou na pós-graduação, quando o profissional sente que suas conquistas são fruto de sorte ou oportunidade, e não de mérito pessoal. Médicos frequentemente associam seu valor pessoal a conquistas clínicas, acadêmicas e profissionais, criando um cenário propício ao desenvolvimento desse fenômeno. Esse quadro pode levá-los a evitar fazer perguntas essenciais, receosos de parecerem inadequados, o que aumenta a ansiedade e o estresse causados por possíveis erros.


Reconhecer e abordar a SI é essencial para apoiar profissionais de saúde, oferecendo ferramentas para lidar com esses sentimentos. A autorreflexão, a reformulação de pensamentos e o feedback honesto de colegas de confiança ajudam a fortalecer a autoconfiança e a transformar perdas em oportunidades de aprendizado. Aceitar o sentimento de inadequação como algo natural, em vez de um sinal de incompetência, é fundamental. Conversas abertas podem aliviar a sensação, mostrando que ela é comum, e buscar orientação de profissionais mais experientes é uma oportunidade de crescimento. Por fim, ser gentil consigo mesmo é crucial, pois erros e inseguranças fazem parte do desenvolvimento profissional.


1. Morhy SS. Women in the DIC: What Motivates Us? Arq Bras Cardiol: Imagem cardiovasc. 2023;36(3):e20230079.


2.Joshi SS, Kadavath S, Mandoli GE, et al. Women in cardiovascular imaging: a call for action to address ongoing challenges. Eur Heart J Cardiovasc Imaging. 2023;24(11):1444-1449. 


3.Cader, F. A., Gupta, A., Han, J. K., Ibrahim, N. E., Lundberg, G. P., Mohamed, A., & Singh, T. (2021). How Feeling Like an Imposter Can Impede Your Success. JACC. Case reports, 3(2), 347–349.



Autora:

Dra. Daniela do Carmo Rassi Frota

Professora Adjunta de Cardiologia da Universidade Federal de Goiás;

Vice-presidente do Ecocardiograma Adulto do Departamento de Imagem Cardiovascular (DIC - SBC) 2024-2025;

Membro da Comissão do DIC Mulheres

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